Como crianças com déficit intelectual aprendem?

Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) de 2021 mostraram que no mundo, cerca de 240 milhões de crianças vivem com algum tipo de deficiência. A legislação brasileira, através do art.2 da Lei n° 13.146/2015, considera uma pessoa com deficiência “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, (…) o qual pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais”. Também segundo a UNICEF, existe cerca de 50% de probabilidade de crianças com deficiência nunca frequentarem a escola, além de maior chance de se sentirem discriminadas e infelizes. Pensando nisso, hoje resolvi escrever sobre como as crianças com déficit intelectual aprendem! Acompanhe o texto.

A neurociência e o processo de aprendizagem

A neurociência estuda o funcionamento, estrutura e desenvolvimento do sistema nervoso, o que inclui o cérebro, órgão onde acontece a aprendizagem. Desta forma, a influência e aplicação das descobertas da neurociência na prática educacional fortalecem as estratégias utilizadas em sala de aula, visto que cada indivíduo é diferente no processo de aprendizagem.

Você já parou para pensar em como aprendemos? A aprendizagem se dá através da habilidade do cérebro conhecida por plasticidade cerebral, que é a capacidade de se modificar e se adaptar, de acordo com as experiências vivenciadas pelos indivíduos.

Sendo assim, a aprendizagem se dá através do estímulo das conexões neurais responsáveis pelo desenvolvimento e a reorganização da estrutura cerebral. Além disso, existem outros fatores importantes que estão envolvidos na aprendizagem, como os aspectos fisiológicos do cérebro. Ademais, para um ensino bem-sucedido, o currículo, a capacidade do professor, as metodologias de ensino, o contexto da sala de aula, o familiar e a comunidade são de grande importância.

E como as crianças com déficit intelectual aprendem?

Os déficits intelectuais podem ter as mais diversas origens, tanto relacionadas ao neurodesenvolvimento intrauterino quanto a eventos pós-nascimento. Os indivíduos com algum tipo de déficit intelectual não aprendem da mesma forma que os alunos que não possuem, por isso, as estratégias pedagógicas precisam ser adaptadas e diferenciadas para que todos possam ser incluídos.

Para buscar um efetivo aprendizado e superar as limitações desses alunos, algumas características devem ser seguidas, como:

  • A sala de aula deve ser estimulante, calma e interativa;
  • Deve-se evitar:
    • salas com muitos alunos;
    • salas de aula com faixas etárias muito diferentes;
    • excesso de figuras coloridas nos ambientes;
    • excesso de ruídos e mobiliários sem preocupação ergonômica.
  • A linguagem dos educadores deve ser clara, simples, tranquila e objetiva;
  • Propor desafios através de atividades pensadas especificamente para cada aluno.

É importante destacar que nem todos os alunos com déficit intelectual poderão ser alfabetizados de acordo com seu grau de comprometimento, mas todos precisam de atenção, uma vez que esses alunos poderão desenvolver outras habilidades. O importante é saber que todos são capazes de aprender, cada um em seu ritmo e à sua maneira. Algumas atividades e estratégias pedagógicas que devem ser utilizadas, são:

  • Uso de jogos e brincadeiras;
  • Uso de tecnologias assistivas, como softwares e hardwares adaptados;
  • Uso de historinhas em quadrinhos;
  • Uso de cartazes para referências e orientações, a partir do estímulo visual;
  • Práticas e competições esportivas
  • Teatro;
  • Excursões;
  • Jogos pedagógicos (compreendendo atividades físicas e de coordenação motora);
  • Computador e internet;
  • Uso de letras móveis, fichas com palavras e frases escritas;
  • Atividades físicas e de coordenação motora;
  • Uso de calculadora, blocos lógicos, cédulas e moedas de brinquedo, para o ensino de conceitos básicos da matemática;
  • Jogos da memória; de massinha de modelar (para aguçar os sentidos como o tato e o olfato);
  • Dramatização com dança e música e oficinas de atividades do dia a dia;
  • Uso de jogos de tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e imitações de sons ou movimentos de outras pessoas (alunos e/ou professor);
  • Uso de objetos do cotidiano do aluno para desenvolver percepções da realidade;
  • Rodas musicais.

Além da preocupação com a aprendizagem da criança, pais e responsáveis devem estar sempre atentos à saúde integral da criança. Por isso, o acompanhamento médico, psicológico e social também é de grande importância! Além de muito amor e carinho para evitar sentimentos de exclusão.

▪▪ Dr. Davi Klava ▪▪

Atendimento Médico em Neurologia Clínica

Referências:

Dia nacional da criança com deficiência. PEBMED. Disponível em:<https://pebmed.com.br/dia-nacional-da-crianca-com-deficiencia/>. Acesso em: 10 Nov 2022.

GROSSI, M. G. R. Neurociência e aprendizagem de pessoas com deficiência intelectual: um estudo de caso. Vértices, v. 20, n.1, 2018. doi: doi.org/10.19180/1809-2667.v20n12018p120-134

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