Como lidar com a depressão que acompanha as doenças neurológicas?

Nos Estados Unidos, cerca de 10% das pessoas apresentam algum transtorno depressivo ao longo da vida. Quando se fala em pacientes que vivem com Doença de Parkinson, esse número sobe para 35%; entre os que têm epilepsia, para 40% e quase 50% para quem tem enxaqueca e esclerose múltipla.

Seria fácil pensar que isso é comum, algo natural após ter o diagnóstico de uma doença neurológica, mas não é bem assim. Mesmo o câncer e a doença cardíaca não aumentam as taxas de depressão da mesma forma que os distúrbios neurológicos. 

Fato é que os transtornos mentais e as doenças neurológicas estão interligados, independentemente de qual deles chegou primeiro na vida do paciente. Estudos já provaram, inclusive, que pacientes com depressão têm mais chance de desenvolver demência. Ou seja: a depressão pode ser o transtorno primário, não a consequência. 

Os dois problemas têm semelhanças químicas fortes, tanto que em diversas ocasiões um medicamento para tratar depressão parece ter efeito sobre uma enxaqueca, por exemplo. 

Registrar as mudanças que acontecem no cérebro de quem convive com os dois problemas é importante, segundo o que pesquisadores explicaram à Brainlife, porque será possível prever quem está em risco de desenvolver depressão com base nas alterações cerebrais.

Enxaqueca e epilepsia

Já detectou-se que a epilepsia e a depressão têm semelhanças quanto a mensageiros químicos e também com relação a anormalidades no hipocampo. Já a enxaqueca e a depressão também têm substâncias químicas em comum, nesse caso a serotonina e a norepinefrina.

Richard Lipton, professor de neurologia e epidemiologia no Albert Einstein College of Medicine, em Nova Iorque, chama depressão, epilepsia e enxaqueca de companheiras de viagem. “A enxaqueca acompanha a epilepsia, e a epilepsia e a depressão também viajam juntas”, afirma.

Para o médico, o que conta aqui é o que ele chama de “carga interictal da doença”, ou seja, o intervalo entre períodos de dor ou convulsões, quando o paciente não sabe quando será o novo ataque. Essa incerteza seria um fator depressivo, além do isolamento das pessoas que preferem ficar sozinhas a arriscar ter um ataque na frente de parentes. Com relação à enxaqueca, também existe o movimento contrário: quadros de depressão, ansiedade e estresse podem levar a mais crises

Assim, tratamentos melhores para as doenças neurológicas seriam importantes para que o paciente consiga se planejar e evitar situações desconfortáveis quando souber ou sentir que terá uma crise.

Doença de Parkinson

O cérebro é um órgão muito complexo e muitas pesquisas ainda precisam ser feitas, mas esse é um problema que envolve serotonina e dopamina, neurotransmissores importantes. Acredita-se que os pacientes com Parkinson têm predisposição à depressão porque os níveis dessas substâncias ficam mais baixos.

Diferentemente do resto dos pacientes depressivos, os que têm Parkinson têm menos culpa e sentimentos suicidas, e mais apatia, falta de prazer em atividades que antes gostava, distúrbios no sono e fadiga.

Esclerose múltipla

Quando falamos de esclerose, o sistema é diferente, pois não envolve neurotransmissores, mas lesões no cérebro e na medula espinhal. De acordo com Scott Patten, professor dos departamentos de ciências da saúde comunitária e psiquiatria da Universidade de Calgary, no Canadá, é possível que a desmielinização impacte na depressão. Os medicamentos utilizados no tratamento da doença também interferem no humor.

E como tratar?

  • Se você tem enxaqueca, Doença de Parkinson, esclerose múltipla ou epilepsia e sente sintomas de depressão, não hesite e converse com seu neurologista. Muita gente deixa os sintomas das doenças neurológicas se sobreporem aos do sofrimento mental, mas isso não é o certo – inclusive porque se tudo estiver em harmonia é mais fácil ficar bem de modo integral.
  • Um tratamento que se mostra eficaz é o dispositivo estimulador do nervo vago, que ajuda a reduzir a frequência dos episódios.
  • Para enxaqueca, existe a alternativa de utilizar a toxina botulínica para diminuir as crises.
  • Siga todas as orientações médicas e converse com seu médico sobre todos os seus sintomas, pois alguns medicamentos podem tratar tanto depressão quanto doenças neurológicas, basta encontrar um ponto de convergência entre os dois.
  • Conte com ajuda profissional especializada e também de pessoas queridas. Desabafe.
  • Tenha um estilo de vida saudável, com exercícios físicos e alimentação equilibrada.
  • Faça coisas que te façam bem. A Organização Pan-Americana de saúde tem uma lista de atividades que ajudam a minimizar os sintomas da depressão, como eu mostro neste artigo.

Tem alguma dúvida ou algum sintoma e precisa de auxílio? Marque uma consulta e vamos conversar mais sobre o assunto! Estou à disposição pelo telefone (19) 99312-4073.

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