Homens vs mulheres: quem tem o melhor cérebro?
Pensando na nossa sociedade, temos diversos motivos pelos quais os cérebros feminino e masculino são considerados diferentes: “os homens são mais habilidosos para as matemáticas”, “as mulheres são mais empáticas e intuitivas”, “os homens têm melhor senso de direção, por isso dirigem melhor”, “ah, as mulheres são multitarefas”. Esses conceitos estão impregnados nos livros, novelas, filmes e seriados de televisão. Mas e se eu te disser que, segundo a neurociência, não existe diferença alguma entre os cérebros dos diferentes sexos?
Assim nos são apresentados os padrões de feminino e masculino, desde o momento do “chá revelação”. O mundo cor-de-rosa exige habilidades bem diferentes do mundo azul, e vice-versa, o que nos leva a aprendizados diferentes. A neurocientista Gina Rippon, confirma em seu livro The Gendered Brain (O Cérebro com Gênero), que “um mundo com gênero produzirá um cérebro com gênero”. E é por isso que diversos estudos científicos vem tentado encontrar evidências entre diferenças neurológicas entre os cérebros, numa tentativa errônea de explicar fatores que foram construídos socialmente.
MAS, O QUE DIZEM OS ESTUDOS?
Então, se você veio até aqui esperando eu te contar de uma vez por todas que um dos sexos possui um cérebro mais potente ou inteligente, sinto muito te decepcionar. As diferenças entre o cérebro feminino e masculino tem sido investigadas durantes décadas utilizando todas as técnicas que a ciência conhece. O problema é que a maioria dos artigos científicos que apontam tais diferenças logo são descreditados, por falhas estatísticas e de interpretação.
É como um ciclo que se repete: um novo estudo é publicado apontando finalmente alguma diferença. A mídia pública o assunto como a descoberta do ano, mas logo aparecem outros estudos que comprovam os erros do anterior – e essa parte geralmente não é divulgada. Por isso temos a sensação de que realmente existe comprovação científica sobre o assunto. Mas atualmente, não há discordância: o cérebro não tem gênero, assim como os outros órgãos do nosso corpo, como os rins, coração, pulmões e fígado.
O QUE JÁ FOI COMPROVADO PELA CIÊNCIA?
O que já foi comprovado, é que o tamanho do cérebro, por exemplo, aumenta de acordo com o tamanho do corpo. E a proporção entre as suas estruturas, como a substância cinzenta (a região mais externa, onde estão os corpos celulares dos neurônios) e a substância branca (região mais interna, constituída de fibras nervosas), está relacionada também ao tamanho do cérebro. Mas o que isso quer dizer? Que ao compararmos homens de cabeça pequena com mulheres de cabeça grande, essas diferenças não são vistas.
E falando-se em doenças neurológicas, existem diferenças nos riscos entre homens e mulheres, mas devido a outros fatores, como os hormônios, a genética e o estilo de vida. As mulheres têm mais chances de desenvolver enxaqueca, Alzheimer, Esclerose múltipla recorrente-remitente e derrames (AVC). Já os homens, correm mais riscos de Doença de Parkinson, Esclerose lateral amiotrófica (ELA), Atrofia muscular espinhal, por exemplo.
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Dr. Davi Klava
Atendimento Médico em Neurologia Clínica
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Fonte:
– Nature: Neurosexism: the myth that men and women have different brains, 2019.
– Brain & Life e American Academy of Neurology.