Névoa cerebral: a sequela da Covid-19 que muitas pessoas estão enfrentando
Mais de dois anos após o início da pandemia de Covid-19 no mundo, a doença continua surpreendendo. O estudo internacional Trust Source, feito com pessoas que tiveram Covid longa, documentou 203 sintomas que atingiram dez sistemas corporais distintos.
A gama de sequelas que podem ser deixadas pelo coronavírus é grande. Pacientes têm tido que reaprender a caminhar, a se alimentar, a tomar banho sozinhos. Grande parte das sequelas, no entanto, são neurológicas – o que não é surpreendente, já que grande parte dos sintomas também atingem o cérebro, como já expliquei neste artigo.
Um estudo publicado na revista The Lancet Psychiatry detectou que uma em cada três pessoas infectadas pelo coronavírus sofreu consequências na saúde mental ou apresentou sintomas neurológicos de longo prazo. A média é ainda maior se forem consideradas as pessoas que foram internadas e sobe mais ainda quando se olha para as que precisaram de UTI.
Uma das sequelas mais comuns entre os pacientes que tiveram a infecção pelo coronavírus é a chamada névoa cerebral, uma condição que já era conhecida por pacientes que fazem tratamento contra o câncer.
Quais são os sintomas da névoa cerebral?
- Redução na velocidade de raciocínio, aprendizagem e resolução de problemas
- Dificuldade de concentração e para finalizar uma tarefa
- Lapsos de memória recente (“onde estacionei o carro?”, data do exame/consulta, senhas etc.)
- Não conseguir manter uma conversa por perder a linha de pensamento ou esquecer de palavras
- Disfunção cognitiva
- Dores de cabeça
- Delírios
A névoa é um sintoma que está relacionado à ansiedade, assim como muitos dos sintomas respiratórios e cardiovasculares da Covid longa, como palpitações e tontura.
E não é só quem ficou gravemente doente pelo coronavírus que pode sofrer com a névoa cerebral, como ficou estabelecido em um estudo feito com pacientes do hospital Monte Sinai, em Nova Iorque, publicado na revista científica JAMA Network Open.
“Neste estudo, encontramos uma frequência relativamente alta de comprometimento cognitivo vários meses depois que os pacientes contraíram COVID-19. Prejuízos no funcionamento executivo, velocidade de processamento, fluência de categoria, codificação de memória e recordação foram predominantes entre os pacientes hospitalizados”, escreveram os cientistas.
“É bem conhecido que certas populações (por exemplo, adultos mais velhos) podem ser particularmente suscetíveis ao comprometimento cognitivo após uma doença crítica; entretanto, na coorte relativamente jovem do presente estudo, uma proporção substancial exibiu disfunção cognitiva vários meses após a recuperação do COVID-19. As descobertas deste estudo são geralmente consistentes com as da pesquisa sobre outros vírus (por exemplo, influenza)”, concluíram os pesquisadores. Ou seja: mais uma vez, cai por terra o mito de que somente os idosos podem ter a Covid-19 grave.
A pesquisa Great Britsh Intelligence TestTrusted, criada para mapear os pontos fortes cognitivos na Inglaterra, constatou que o déficit cognitivo é mais severo, mas não exclusivo de quem teve piores sintomas respiratórios, estando presente também em quem não teve sintomas respiratórios durante a fase aguda da doença. Não foi possível relacionar diretamente os problemas com o coronavírus, mas já são indícios que vale a pena investigar mais.
Uma outra pesquisa sinaliza que os participantes com Covid-19 podem demonstrar perda de massa cinzenta no córtex orbitofrontal lateral, dano ao tecido em várias regiões do cérebro e mais sinais de atrofia cerebral generalizada, além de um declínio cognitivo que chega a ser constatado em testes.
Para especialistas, os pacientes mais jovens e que apresentam sintomas neurológicos pós-Covid tendem a melhorar após algumas semanas. A maior preocupação é com os idosos, que podem desenvolver um quadro semelhante à demência.
Os pesquisadores que acompanharam os pacientes do Hospital Monte Sinai têm um pensamento do qual eu compartilho: ainda são necessários muitos estudos para entender o que está acontecendo no cérebro de quem teve Covid, de modo que sejam determinadas com mais precisão as formas de reabilitação.
Enquanto isso, o que efetivamente está em nosso alcance é o que sempre falo com meus pacientes e suas famílias: a prevenção. A pandemia de Covid-19 não acabou e é preciso continuar se cuidando com uso de máscaras, distanciamento social e evitando aglomerações – tudo isso sem deixar de lado as essenciais vacinas. Quem ainda não tem o esquema vacinal completo deve procurar o quanto antes uma unidade de saúde, pois só com a carteirinha em dia o organismo tem todas as armas para combater o vírus.
E, caso você ou alguém próximo tenha passado pela Covid-19 e agora esteja apresentando algum sintoma neurológico, não adie mais, me procure, pois estou à disposição para ajudar.
Agende sua consulta pelo telefone (19) 99312-4073.
Dr. Davi Klava
Atendimento médico em Neurologia Clínica