O HIV também pode afetar o cérebro

# O HIV também pode afetar o cérebro
Até o final de 2019, foram contabilizadas mais de 38 milhões de pessoas vivendo com o HIV. Essa infecção, caso não tratada corretamente, pode evoluir para o que chamamos propriamente de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), condição em que o vírus causa danos irreversíveis ao sistema imune. Além dos sintomas conhecidos da doença, como a febre, sudorese noturna, diarreia e emagrecimento exacerbado, e das possíveis infecções oportunistas e fatais que podem se instaurar, uma consequência pouco divulgada são as Doenças Neurocognitivas Associadas ao HIV, como a demência e a depressão.

COMO O HIV AFETA O SISTEMA IMUNOLÓGICO E O CÉREBRO?

Uma pessoa pode se infectar com o vírus HIV através do contato com sangue, esperma, fluidos vaginais, retais e pelo leite materno de uma pessoa infectada, o que pode acontecer tanto pela relação sexual desprotegida, quanto pelo compartilhamento de seringas ou outros objetos perfurocortantes. Quando atinge a corrente sanguínea, o vírus invade as células de defesa do organismo, principalmente os linfócitos T CD4+, e usam o seu maquinário para se multiplicar. Esse processo acaba causando o rompimento e a morte celular, o que deixa o organismo sem defesas contra outras infecções.

Dessa mesma forma, o HIV consegue chegar até o cérebro. Ele infecta células de defesa chamadas macrófagos, que conseguem atravessar a barreira hematoencefálica, responsável por proteger o cérebro contra microorganismos e outras substâncias tóxicas. É um mecanismo muito parecido com um “cavalo de Tróia”. No cérebro, o HIV infecta e causa danos nas células da Glia, que deveriam proteger e nutrir os neurônios, mas esse processo de morte celular libera neurotoxinas, causando a morte dos neurônios. E é por conta disso que a infecção pelo HIV está também associada ao déficit neurológico, como a demência.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA DEMÊNCIA PELO HIV?

Estudos demonstram que o principal grupo de risco para as Doenças Neurocognitivas Associadas ao HIV, como a demência, são as pessoas com infecção crônica, ou seja, que já atingiram o estágio da AIDS. Agora, quem recebeu diagnóstico e tratamento precoce e fez uso dos medicamentos antirretrovirais por um longo tempo, são minoria quando se fala em doenças neurocognitivas. A demência associada ao HIV está presente em  cerca de 4% dos pacientes, entretanto, formas mais leves ou moderadas da doença, possuem uma prevalência de 30% em pessoas infectadas com o vírus HIV e de 50% em pessoas que desenvolveram a AIDS.

Os sintomas iniciais da demência pelo HIV podem ser confundidos com o estado depressivo: lentidão mental, apatia e dificuldade de concentração, e o desenvolvimento da doença tende a ser lento, de semanas à meses, e muitos pacientes podem passar anos com estabilidade ou avanço lento. Os principais sintomas podem ser subdivididos nas seguintes categorias: sintoma cognitivo, motor, emocional e comportamental.

– Cognitivo: perda de memória e da coordenação, lentidão mental, dificuldade para se concentrar e prestar atenção. Na fase mais avançada, pode surgir mutismo e desorientação espacial se e temporal;
– Motor: lentidão nos movimentos, fraqueza nas pernas, falta de coordenação motora, perda de equilíbrio e marcha instável. Na fase mais avançada, pode ocorrer tetraplegia e incontinência urinária e fecal;
–  Emocional: apatia, irritabilidade, manias e desconexão com a realidade;
–  Comportamental: alterações de personalidade e afastamento do convívio social.

Além disso, a depressão é o transtorno psiquiátrico mais associado ao HIV, mas possui bom prognóstico caso haja o tratamento correto e acompanhamento com psicólogo e tratamento psiquiátrico.

Dr. Davi Klava | Atendimento Médico em Neurologia Clínica

Fonte:
– Saloner, R., & Cysique, L. (2017). HIV-Associated Neurocognitive Disorders: A Global Perspective. Journal of the International Neuropsychological Society, 23(9-10), 860-869.
– CHRISTO, Paulo Pereira. Alterações cognitivas na infecção pelo HIV e Aids. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo , v. 56, n. 2, p. 242-247, 2010.
– International Journal of Psychiatry e UNAIDS.

1 Comment

  1. Ótimas informações.
    Parabéns!
    Informações como está, deve ser divulga.

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