O papel do exame de líquor no diagnóstico de demências, como o Alzheimer

As demências não são simples nem no início, no momento de fazer diagnóstico. Quando falamos de Doença de Alzheimer, por exemplo, são necessários diversos exames de sangue, imagens do cérebro e uma conversa bastante extensa com o neurologista, em que ele vai entender o histórico familiar e sintomas do paciente. 

Um dos dificultadores para o diagnóstico preciso é que muitos dos sintomas podem se confundir com características típicas do avanço da idade, por isso é preciso que a família sempre esteja atenta.

SÃO SINTOMAS DA DOENÇA DE ALZHEIMER:

– falta de memória para acontecimentos recentes;

– repetição da mesma pergunta várias vezes;

– dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos;

– incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;

– dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos;

– dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais;

– irritabilidade, desconfiança injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.

DOUTOR, EXISTE EXAME ESPECÍFICO PARA ALZHEIMER?

Infelizmente, não existe nenhum exame específico para Alzheimer ou outras demências, como ocorre com a dengue ou coronavírus, em que é possível rastrear o micro-organismo no sangue ou secreções. Essa é uma angústia das famílias que me procuram, pois gostariam que houvesse algo mais específico para determinar o diagnóstico clínico. 

A boa notícia é que a ciência tem caminhado nesse sentido. 

Pesquisas têm indicado que o líquor pode ser um meio de diagnosticar demências, pois ele possui biomarcadores que indicam a presença de alguma disfunção cerebral. Para as famílias, ter mais um mecanismo à disposição ao receber um diagnóstico tão sério e tão transformador quanto o de uma demência representa mais segurança.

Também conhecido como líquido cefalorraquidiano, o líquor é produzido pelo cérebro e ocupa todo o espaço subaracnoideo do cérebro e da medula espinhal. Sua função básica é criar uma barreira mecânica e imunológica para proteger todo o sistema nervoso central (SNC).

É por isso que ao fazer o exame de líquor, estamos buscando alterações nas células desse líquido e a presença de micro-organismos que possam causar infecções e, consequentemente, doenças neurológicas.

O exame serve para auxiliar no diagnóstico e progressão de doenças como encefalite, meningite e síndrome de Guillain-Barrè. Além do Alzheimer, ele possui biomarcadores que podem estar aumentados ou alterados nos distúrbios cognitivos como demência vascular, demência por corpos de Lewy e demência frontotemporal, além de hipertensão intracraniana benigna e hidrocefalia de pressão normal.

De acordo com as considerações dos pesquisadores da Universidade Anhembi Morumbi, em estudo publicado na Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria, o exame de líquor ainda não é costumeiramente pedido na prática clínica para detecção de Doença de Alzheimer, porém resultados de pesquisas já concluídas e em andamento têm se mostrados promissores.

Os pesquisadores consideram ainda que faltam estudos para investigar formas de utilização do exame de líquor e que um dos entraves para que ele seja solicitado como forma de investigação das demências é a necessidade de punção lombar, além da falta de padronização no uso dos testes.

A punção lombar é feita com o mesmo tipo de agulha utilizado para raquianestesia. Não existe nenhum preparo específico e nem é necessário jejum. Depois do procedimento, a amostra é enviada para análises laboratoriais.

SÓ ESSE EXAME É SUFICIENTE?

O exame de líquor nunca deve ser utilizado como única fonte de diagnóstico para demências, uma vez que os níveis de biomarcadores podem se apresentar dentro de níveis considerados normais, o que não descarta a Doença de Alzheimer. Mesmo enquanto as pesquisas não avançam, no entanto, ele pode ser um importante aliado na investigação dos sintomas que o paciente vem apresentando, pois os biomarcadores podem, sim, estar fora do que é esperado. 

Por isso, como eu falei lá no começo, é essencial uma investigação profunda acerca da vida do paciente. O Alzheimer e outras demências não têm cura, mas o diagnóstico mais precoce possível é muito importante para frear o avanço da doença e garantir mais qualidade de vida ao paciente.

O Alzheimer evolui de forma lenta e a sobrevida é longa a partir do diagnóstico. Quando familiares perceberem que alguém próximo está apresentando os sintomas, é muito importante procurar o médico para iniciar o tratamento o quanto antes.

Você pode sempre contar comigo. Agende sua consulta pelo telefone (19) 99312-4073.

Dr. Davi Klava

Atendimento médico em Neurologia Clínica

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