Redes sociais de MAIS e saúde mental DE MENOS
Estamos cada vez mais conectados. Enquanto trabalhamos no computador, assistimos ao telejornal na televisão e checamos mensagens no celular. E isso parece que se agravou ainda mais durante a pandemia, com a necessidade de muitas pessoas trabalharem em casa. Às vezes, dá a sensação de que a gente nunca desliga.
Mas o que parece cada vez mais comum – essa nossa mania de estar conectado o tempo todo – pode estar destruindo nossa saúde mental. Alguns comportamentos já são oficialmente reconhecidos internacionalmente como doenças, como o vício em jogos eletrônicos. São vários fatores que levam a tecnologia, muitas vezes, a ter um impacto negativo, como a contínua exposição a telas desde o despertar até a hora de dormir; a expectativa por likes, como se a autoestima dependesse disso; e até o desejo de ter uma vida perfeita como a mostrada nas redes sociais e a frustração, já que é claro que isso não vai acontecer.
Ainda há muitos estudos para serem feitos sobre o impacto da tecnologia nas nossas vidas e corpos, mas pesquisas científicas têm relacionado o uso de multiplataformas midiáticas, como televisão, celular, computador e jornal impresso, com menor volume cerebral de massa cinzenta em comparação com quem usa um aparelho só e não o tempo todo. A massa cinzenta é responsável pela capacidade de pensamento, linguagem, julgamento, percepção e até pelos movimentos voluntários, aqueles que a gente faz porque quer, como caminhar e esticar o braço para pegar um copo.
O estudo ratifica o que já havia sido detectado em pesquisas anteriores e relaciona o uso de multiplataformas midiáticas com depressão e ansiedade, além de maior facilidade para se distrair (ou seja, mais dificuldade em se concentrar). Quem nunca perdeu o foco no trabalho após uma notificação de mensagem, não é mesmo?
Estudiosos do Institute of Cognitive Neuroscience, do Reino Unido, demonstraram que pessoas que utilizavam muitas mídias tinham menos massa cinzenta em uma área do cérebro chamado córtex cingulado anterior, que está relacionado com a cognição.
E não é só na vida dos adultos que pode haver prejuízo!
A Royal Society For Public Health e o Young Health Movement, também do Reino Unido, já em 2017, discutiam a questão do impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes. De acordo com estudo feito pelas entidades, o Instagram foi considerado pelos jovens o mais prejudicial à saúde mental e bem-estar.
Afinal, quem nunca ficou abalado quando percebeu que não tinha a pele tão perfeita quanto a da atriz famosa ou não ficou esperando o post “bombar” de likes? A gente acaba idealizando uma vida que não existe na vida real e esquece que tudo na internet pode ser filtrado e editado.
Com o objetivo de diminuir essa influência das redes sociais, as entidades incluíram no relatório algumas recomendações aos governos. Algumas delas são: aviso se o usuário estiver há tempo demais na rede social, plataformas para identificar que a saúde mental não está bem por meio das postagens, além de mecanismos para identificar quando uma imagem foi editada.
E as consequências?
Embora ainda haja muito para se estudar a respeito do cérebro humano, já se sabe que exposições contínuas a comportamentos, ambientes e emoções podem levar a modificações cerebrais – como o caso das telas, por exemplo. Pesquisadores da National Academy of Sciences, dos Estados Unidos, já mostraram há vários anos que quem tem multitarefa na mídia tem controle cognitivo mais fraco.
A cognição está ligada com muitas coisas do nosso dia a dia, como percepção, sentidos e discernimento socioemocional. Se ela é abalada, pode ser mais difícil compreender aquela matéria da faculdade, se concentrar no trabalho ou resolver um problema em casa.
Um estudo realizado com estudantes indianos mostrou que quase um quarto deles eram nomofóbicos, ou seja, viciados em celular, e metade tinham risco de desenvolver o problema, que oficialmente ainda não é considerado uma doença. O celular é fonte de segurança e bem-estar e ficar sem ele por perto gera ansiedade. Uma grande parte dos estudantes checava o celular com frequência durante as atividades acadêmicas e uma parcela maior ainda comentou que tinha pior desempenho na faculdade por causa do uso constante do aparelho.
Pesquisas apontam que quem tem menos massa cinzenta tem mais probabilidade de desenvolver problemas como depressão, transtorno pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo.
E agora?
É muito difícil mesmo evitar dar aquela espiadinha nas redes sociais para descobrir o que está rolando ou não se sentir meio pra baixo quando aquela foto não tem um monte de curtidas. Mas pelo bem da saúde mental, algumas atitudes são necessárias.
- Ao acordar, evite checar o celular imediatamente. Vista-se, tome seu café da manhã…só depois, quando necessário, vá pegar o aparelho.
- Terminou o trabalho? Desligue o computador, fique longe do telefone um pouco, tentando se livrar da ansiedade por notificações.
- Faça pausas ao longo do dia. Levante, tome um café, vá ao banheiro, coma uma fruta.
- Refeições na frente da tela? Nem pensar! Preste atenção ao que está consumindo.
- Converse com sua família pessoalmente ou telefone para os que estão longe. Vai fazer muito bem ter contato mais próximo com quem você ama.
- Desligue todas as telas antes de dormir.
- Não se torne dependente da aprovação virtual para se sentir bem consigo mesmo.
- Se sentir que a situação saiu do controle, busque ajuda profissional.
E vocês já sabem que estou aqui sempre que necessário. Me envie uma mensagem pelo WhatsApp (19) 99685-4402.
Dr. Davi Klava
Atendimento Médico em Neurologia Clínica