Será que a prática de exercícios intensos antes de dormir realmente prejudica o sono?
Tenho certeza que você já ouviu falar que exercícios físicos moderados ou intensos à noite prejudicam o sono. Afinal, grande parte dos pacientes que chegam à clínica têm essa mesma convicção. Mas será que é isso mesmo?
Uma revisão sistemática e meta-análise do Departamento de Saúde, Cinesiologia e Fisiologia Aplicada da Universidade de Concordia, em Montreal, no Canadá, apontou que não é bem assim. Uma revisão sistemática é feita quando cientistas analisam vários trabalhos de outros pesquisadores em uma mesma área para verificar se existe uma conclusão comum – ou várias diferentes – entre eles.
Nesse estudo, o time queria saber se a atividade física intensa aguda ou regular – ou seja, tanto esportistas que se aventuravam de vez em quando quanto aqueles que se exercitavam todos os dias – poderia atrapalhar o sono de adultos saudáveis que dormem bem em comparação àqueles que não praticavam nenhum exercício.
Foram analisados 15 estudos envolvendo exercícios físicos noturnos intensos, com um total de 194 participantes. E a conclusão é que NÃO existe nenhuma alteração significativa proporcionada pelos exercícios praticados de duas a quatro horas antes de dormir.
Posso correr uma maratona à noite então, doutor?
Olha, não é bem assim. O estudo analisou adultos saudáveis, jovens e de meia-idade e que não tinham nenhum problema para entrar no mundo de Morfeu, deus grego dos sonhos. Ou seja, se você precisa contar carneirinhos para adormecer, talvez o recomendado seja evitar exercícios muito pesados à noite.
Afinal de contas, ter boas noites de sono sempre é essencial para manter o organismo funcionando bem. Dormir mantém o equilíbrio psíquico, emocional e metabólico e recarrega nossas baterias para enfrentar os desafios do dia a dia. Dormir mal é fator de risco para diabetes, alterações no sistema imunológico, além de minar a saúde mental.
E não é apenas qualidade que conta, mas quantidade também. O recomendado é que adultos saudáveis repousem de sete a nove horas por noite.
Mas a necessidade de dormir não é nenhuma desculpa para deixar o movimento de lado e levar uma vida sedentária. Afinal, a prática de exercícios físicos com regularidade previne e controla doenças cardíacas, diabetes e câncer, além de diminuir sintomas de depressão e ansiedade, declínio cognitivo, melhorar a memória e ser primordial para a saúde do cérebro. Milhões de mortes no mundo poderiam ser evitadas todos os anos se a população fosse mais ativa.
Se você enfrenta problemas para descansar, procure praticar seus exercícios físicos pela manhã, à tarde (se eles forem em ambiente interno – jamais se exponha em excesso ao sol) ou no fim da tarde/início da noite, bastante tempo antes da hora de ir se deitar.
E se nem assim eu conseguir dormir?
Não deixe de praticar exercício físico, mas procure um médico, pois há mais de uma centena de distúrbios listados na Classificação Internacional de Distúrbios do Sono. Eles causam prejuízos à saúde mental e física, aumentando os riscos de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes e estresse. Alguns exames são utilizados para auxiliar no diagnóstico, como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a polissonografia, sobre a qual eu falei neste artigo.
Antes de chegar à consulta, vale a pena ler este texto, onde eu compartilho algumas maneiras simples para dormir melhor.
Um profissional de saúde também pode, além do tratamento com medicamentos, recomendar atividades físicas que comprometam menos o descanso, além de outras práticas relaxantes. Tudo isso faz parte da Medicina do Sono. Entre em contato comigo pelo telefone (19) 99778-2580.
Dr. Davi Klava
Atendimento médico em Neurologia Clínica